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0415147964.Routledge.Social.Reality.May.1997
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Historia malzenska dla doroslyc Antczak Radoslaw
Hogan, James P Voyage from Yesteryear
Laine Pascal Koronczarka
Rachel Morgan 4 A Fistfull of Charms
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    Público!
    Mas deixar tudo isso, e deixar a igreja da Alcáçova também; entre-
    mos nos palácios de D. Afonso Henriques.
    Aqui, pegado com o pardieiro rebocado da capela hão de ser. Por
    onde se entra?
    Por esta portinha estreita e baixa, rasgada, bem se vê que há pou-
    cos anos, no que parece muro de um quintal ou de um pátio.
    É com efeito aqui; apeemo-nos.
    Recebeu-nos com os braços abertos o nosso bom e sincero amigo,
    atual possuidor e habitante do régio alcáçar, o Sr. M. P.
    Notável combinação do acaso! Que o ilustre e venerando chefe do
    partido progressista em Portugal, que o homem de mais sinceras con-
    vicções democráticas, e que mais sinceramente as combina com o res-
    peito e adesão às formas monárquicas, esse homem, vindo do Minho, do
    berço da dinastia e da nação, viesse fixar aqui a sua residência no alcáçar
    do nosso primeiro rei, conquistado pela sua espada num dos feitos mais
    insignes daquela era de prodígios!
    Entramos na pequena horta em forma de claustro que une a antiga
    casa dos reis com a sua capela. Assim foi sem dúvida noutro tempo: a
    parede oriental da igreja é o muro do quintal de um lado, mas as co-
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    Viagens na Minha Terra
    municações foram vedadas provavelmente quando a coroa alienou o
    palácio e o separou assim perpetuamente do templo.
    Plantada de laranjeiras antigas, os muros forrados de limoeiros e
    parreiras, aquela pequena cerca, apesar de muitos canteiros e alegretes
    de alvenaria com que está moirescamente entulhada, é amena e graciosa
    à vista.
    Apresentou-nos o nosso amigo a sua mulher, senhora de porte
    gentil e grave; beijamos seus lindos filhos, e fomos fazer as abluções
    indispensáveis depois de tal jornada para nos podermos sentar à mesa.
    O palácio de Afonso Henriques está como a sua capela: nem o mais
    leve, nem o mais apagado vestígio da antiga origem. Sabe-se que é ali
    pela bem confrontada e inquestionável topografia dos lugares, por mais
    nada...
    E que me importam a mim agora as antiguidades, as ruínas e as
    demolições, quando eu sinto demolir-me cá por dentro por uma fome
    exasperada e destruidora, uma fome vandálica, insaciável!
    Vamos a jantar.
    Comemos, conversamos, tomamos chá, tornamos a conversar e
    tornamos a comer. Vieram visitas, falou-se política, falou-se literatura,
    falou-se de Santarém sobretudo, das suas ruínas, da sua grandeza antiga,
    da sua desgraça presente. Enfim, fomo-nos deitar,
    Nunca dormi tão regalado sono em minha vida, Acordei no outro dia
    ao repicar incessante e apressurado dos sinos da Alcáçova. Saltei da
    cama, fui à janela, e dei com o mais belo, o mais grandioso, e ao mesmo
    tempo, mais ameno quadro em que ainda pus os meus olhos.
    No fundo de um largo vale aprazível e sereno está o sossegado leito
    do Tejo, cuja areia ruiva e resplandecente apenas se cobre de água junto
    às margens, donde se debruçam verdes e frescos ainda os salgueiros que
    as ornam e defendem. De além do rio, com os pés no pingue nateiro
    daquelas terras aluviais, os ricos olivedos de Alpiarça e Almeirim; depois
    a vila de D. Manuel e a sua charneca e as suas vinhas. Daquém a imensa
    planície dita do Rossio, semeada de casas, de aldeias, de hortas, de
    grupos de árvores silvestres, de pomares. Mais para a raiz do monte, em
    142
    Almeida Garrett
    cujo cimo estou, o pitoresco bairro da Ribeira com as suas casas e as suas
    igrejas, tão graciosas vistas daqui, a sua cruz de Santa Iria e as memórias
    romanescas do seu Alfageme.
    Com os olhos vagando por este quadro imenso e formosíssimo, a
    imaginação tomava-me asas e fugia pelo vago infinito das regiões ideais
    Recordações de todos os tempos, pensamentos de todo o género afluíam
    ao espírito, e me tinham como num sonho em que as imagens mais
    discordantes e disparatadas se sucedem umas ás outras.
    Mas eram todas melancólicas, todas de saudade, nenhuma de
    esperança!...
    Lembraram-me aqueles versos de Goethe, aqueles sublimes e
    inimitáveis versos da introdução do Fausto:
    Ressurgis outra vez, vagas figuras,
    Vacilantes imagens que à turbada
    Vista acudíeis dantes, E hei de agora
    Reter-vos firme? Sinto eu ainda
    O coração propenso a ilusões dessas?
    E apertais tanto!... Pois embora! seja;
    Dominai, já que em névoa e vapor leve
    Em torno a mim surgis. Sinto o meu seio
    Juvenilmente tépido agitar-se
    Co'a maga exalação que vos circunda.
    Trazeis-me a imagem de ditosos dias,
    E dai se ergue muita sombra amado;
    Corno um velha cantar meio esquecido,
    Vêm os primeiros símplices amores
    E a amizade com eles. Reverdece
    A mágoa, lamentando o errado curso
    Dos labirintos da perdida vida;
    E me está nomeando os que traídos
    Em horas belas por falaz ventura
    Antes de mim na estrada se sumiram.
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    Viagens na Minha Terra
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    ......................................................................................................................
    ...............
    Não me atrevo a pôr aqui o resto da minha infeliz tradução: fiel é
    ela, mas não tem outro mérito. Quem pode traduzir tais versos, quem de
    uma língua tão vasta e livre há-de passá-los para os nossos apertados e
    severos dialectos romanos 20
    144
    Almeida Garrett
    CAPÍTULO XXIX
    Doçuras da vida.  Imaginação e sentimento.  Poetas que morreram moços e poetas
    que morreram velhos.  Como são escritas estas viagens.  Livro de pedra. Criança
    que brinca com ele.  Ruínas e reparações.  Ideia fixa do A. em coisas de arte e
    literárias.  Santa fria ou Irene, e Santarém.  Romance de Santa Iria.  Quantas
    santas há em Portugal deste nome?
    Este sonhar acordado, este cismar poético diante dos sublimes
    espectáculos da natureza, é dos prazeres grandes que Deus concedeu às
    almas de certa têmpera. Doce é gozar assim... mas em que doçuras da
    vida não predomina sempre o ácido poderoso que estimula! Tirai-lho, fica
    a insipidez: deixai-lho, ulcera por fim os órgãos: o gozo é mais vivo,
    porque a acção do estímulo é mais sentida... mas a ulceração cresce, o
    coração está em carne viva... agora o prazer é martírio.
    Infeliz do que chegou a esse estado!
    Bem-aventurado o que pode graduar, como Goethe, a dose de
    anfião que quer tomar, que poupa as sensações e a vida, e economiza as
    potências de sua alma! Nesses porém é a imaginação que domina, não o
    sentimento. Byron, Schiller, Camões, o Tasso morreram moços; matou-os
    o coração. Homero e Goethe, Sófocles e Voltaire acabaram de velhos:
    sustinha-os a imaginação, que não despende vida porque não gasta
    sensibilidade.
    Imaginar é sonhar, dorme e repousa a vida no entretanto: sentir é
    viver activamente, cansa-a e consome-a,
    Isto é o que eu pensava  porque não pensava em nada, divagava  ,
    enquanto aqueles versos do Fausto me estavam na memória, e aquela
    saudosa vista do Tejo e das suas margens diante dos olhos.
    Isto pensava, isto escrevo; isto tinha na alma: isto vai no papel: que
    doutro modo não sei escrever.
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