Index 453. Hardy Kate śÂšwić™to śźycia Jeffrey Lord Blade 10 Ice Dragon 141. Gina Wilkins Randka z sć…siadem Bohumil Hrabal Pocić…gi pod specjalnym nadzorem 0415147964.Routledge.Social.Reality.May.1997 D240. Myers R. Helen Buntowniczka i bohater Historia malzenska dla doroslyc Antczak Radoslaw Hogan, James P Voyage from Yesteryear Laine Pascal Koronczarka Rachel Morgan 4 A Fistfull of Charms |
[ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ] Público! Mas deixar tudo isso, e deixar a igreja da Alcáçova também; entre- mos nos palácios de D. Afonso Henriques. Aqui, pegado com o pardieiro rebocado da capela hão de ser. Por onde se entra? Por esta portinha estreita e baixa, rasgada, bem se vê que há pou- cos anos, no que parece muro de um quintal ou de um pátio. É com efeito aqui; apeemo-nos. Recebeu-nos com os braços abertos o nosso bom e sincero amigo, atual possuidor e habitante do régio alcáçar, o Sr. M. P. Notável combinação do acaso! Que o ilustre e venerando chefe do partido progressista em Portugal, que o homem de mais sinceras con- vicções democráticas, e que mais sinceramente as combina com o res- peito e adesão às formas monárquicas, esse homem, vindo do Minho, do berço da dinastia e da nação, viesse fixar aqui a sua residência no alcáçar do nosso primeiro rei, conquistado pela sua espada num dos feitos mais insignes daquela era de prodígios! Entramos na pequena horta em forma de claustro que une a antiga casa dos reis com a sua capela. Assim foi sem dúvida noutro tempo: a parede oriental da igreja é o muro do quintal de um lado, mas as co- 141 Viagens na Minha Terra municações foram vedadas provavelmente quando a coroa alienou o palácio e o separou assim perpetuamente do templo. Plantada de laranjeiras antigas, os muros forrados de limoeiros e parreiras, aquela pequena cerca, apesar de muitos canteiros e alegretes de alvenaria com que está moirescamente entulhada, é amena e graciosa à vista. Apresentou-nos o nosso amigo a sua mulher, senhora de porte gentil e grave; beijamos seus lindos filhos, e fomos fazer as abluções indispensáveis depois de tal jornada para nos podermos sentar à mesa. O palácio de Afonso Henriques está como a sua capela: nem o mais leve, nem o mais apagado vestígio da antiga origem. Sabe-se que é ali pela bem confrontada e inquestionável topografia dos lugares, por mais nada... E que me importam a mim agora as antiguidades, as ruínas e as demolições, quando eu sinto demolir-me cá por dentro por uma fome exasperada e destruidora, uma fome vandálica, insaciável! Vamos a jantar. Comemos, conversamos, tomamos chá, tornamos a conversar e tornamos a comer. Vieram visitas, falou-se política, falou-se literatura, falou-se de Santarém sobretudo, das suas ruínas, da sua grandeza antiga, da sua desgraça presente. Enfim, fomo-nos deitar, Nunca dormi tão regalado sono em minha vida, Acordei no outro dia ao repicar incessante e apressurado dos sinos da Alcáçova. Saltei da cama, fui à janela, e dei com o mais belo, o mais grandioso, e ao mesmo tempo, mais ameno quadro em que ainda pus os meus olhos. No fundo de um largo vale aprazível e sereno está o sossegado leito do Tejo, cuja areia ruiva e resplandecente apenas se cobre de água junto às margens, donde se debruçam verdes e frescos ainda os salgueiros que as ornam e defendem. De além do rio, com os pés no pingue nateiro daquelas terras aluviais, os ricos olivedos de Alpiarça e Almeirim; depois a vila de D. Manuel e a sua charneca e as suas vinhas. Daquém a imensa planície dita do Rossio, semeada de casas, de aldeias, de hortas, de grupos de árvores silvestres, de pomares. Mais para a raiz do monte, em 142 Almeida Garrett cujo cimo estou, o pitoresco bairro da Ribeira com as suas casas e as suas igrejas, tão graciosas vistas daqui, a sua cruz de Santa Iria e as memórias romanescas do seu Alfageme. Com os olhos vagando por este quadro imenso e formosíssimo, a imaginação tomava-me asas e fugia pelo vago infinito das regiões ideais Recordações de todos os tempos, pensamentos de todo o género afluíam ao espírito, e me tinham como num sonho em que as imagens mais discordantes e disparatadas se sucedem umas ás outras. Mas eram todas melancólicas, todas de saudade, nenhuma de esperança!... Lembraram-me aqueles versos de Goethe, aqueles sublimes e inimitáveis versos da introdução do Fausto: Ressurgis outra vez, vagas figuras, Vacilantes imagens que à turbada Vista acudíeis dantes, E hei de agora Reter-vos firme? Sinto eu ainda O coração propenso a ilusões dessas? E apertais tanto!... Pois embora! seja; Dominai, já que em névoa e vapor leve Em torno a mim surgis. Sinto o meu seio Juvenilmente tépido agitar-se Co'a maga exalação que vos circunda. Trazeis-me a imagem de ditosos dias, E dai se ergue muita sombra amado; Corno um velha cantar meio esquecido, Vêm os primeiros símplices amores E a amizade com eles. Reverdece A mágoa, lamentando o errado curso Dos labirintos da perdida vida; E me está nomeando os que traídos Em horas belas por falaz ventura Antes de mim na estrada se sumiram. 143 Viagens na Minha Terra ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ............... Não me atrevo a pôr aqui o resto da minha infeliz tradução: fiel é ela, mas não tem outro mérito. Quem pode traduzir tais versos, quem de uma língua tão vasta e livre há-de passá-los para os nossos apertados e severos dialectos romanos 20 144 Almeida Garrett CAPÍTULO XXIX Doçuras da vida. Imaginação e sentimento. Poetas que morreram moços e poetas que morreram velhos. Como são escritas estas viagens. Livro de pedra. Criança que brinca com ele. Ruínas e reparações. Ideia fixa do A. em coisas de arte e literárias. Santa fria ou Irene, e Santarém. Romance de Santa Iria. Quantas santas há em Portugal deste nome? Este sonhar acordado, este cismar poético diante dos sublimes espectáculos da natureza, é dos prazeres grandes que Deus concedeu às almas de certa têmpera. Doce é gozar assim... mas em que doçuras da vida não predomina sempre o ácido poderoso que estimula! Tirai-lho, fica a insipidez: deixai-lho, ulcera por fim os órgãos: o gozo é mais vivo, porque a acção do estímulo é mais sentida... mas a ulceração cresce, o coração está em carne viva... agora o prazer é martírio. Infeliz do que chegou a esse estado! Bem-aventurado o que pode graduar, como Goethe, a dose de anfião que quer tomar, que poupa as sensações e a vida, e economiza as potências de sua alma! Nesses porém é a imaginação que domina, não o sentimento. Byron, Schiller, Camões, o Tasso morreram moços; matou-os o coração. Homero e Goethe, Sófocles e Voltaire acabaram de velhos: sustinha-os a imaginação, que não despende vida porque não gasta sensibilidade. Imaginar é sonhar, dorme e repousa a vida no entretanto: sentir é viver activamente, cansa-a e consome-a, Isto é o que eu pensava porque não pensava em nada, divagava , enquanto aqueles versos do Fausto me estavam na memória, e aquela saudosa vista do Tejo e das suas margens diante dos olhos. Isto pensava, isto escrevo; isto tinha na alma: isto vai no papel: que doutro modo não sei escrever. 145 Viagens na Minha Terra [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ] |
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